quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Nautilus Bulletin #1 - 24

Atitudes Médicas Profissionais para com o Treinamento

Em toda a profissão médica, existe uma atitude de dúvida generalizada – embora não seja unânime – sobre o assunto de treinamento físico de qualquer tipo e, ainda que compreensível, é lamentável. Leva a um grande número de confrontos entre treinadores e médicos. Parte dessa situação surgiu do fato de que o campo da medicina simplesmente se tornou amplo demais para muito mais do que um conhecimento geral fora dos limites bastante estreitos de vários subcampos de especialização. Mas, em grande parte, também se deve a uma atitude preconceituosa não muito diferente da do leigo comum.

Embora alguns médicos tenham feito tentativas bastante limitadas de investigar as possibilidades do exercício, a maioria desses esforços foi estreita em escopo e superficial em profundidade. E muito pouco em termos de atenção generalizada foi chamada para os poucos relatórios que foram publicados. Como resultado, é extremamente difícil encontrar relatórios publicados sobre tais investigações e quase impossível encontrar relatórios com real significado.

Parte dessa aparente falta de interesse é obviamente um resultado direto da concentração atualmente generalizada nas tentativas de descobrir tratamentos químicos específicos para todo tipo de doença ou lesão. Mas também é resultado do fato de que vários praticantes de ramos marginais da medicina se apegaram firmemente a alguns tipos de treinamento físico e membros da Associação Médica Americana se esquivaram do exercício de uma forma bastante natural, embora injustificada, como reação às declarações de pessoas que eles consideram charlatães.

Em muitos casos, tal atitude é perfeitamente justificada. Nos últimos seis meses, li um artigo de um homem que se autodenomina médico, no qual fazia a afirmação categórica de que resfriados não eram resultado de "germes", que resfriados eram tentativas por parte do corpo de se livrar do muco resultante da ingestão de alimentos errados. Ele então disse que esse muco acabaria saindo pelo topo da cabeça e seria chamado de caspa.

Diante de declarações publicadas como essa, certamente é fácil entender a atitude do médico comum. Mas, neste caso, "o bebê quase literalmente foi jogado fora com a água do banho"¹ ("the baby has almost literally been thrown out with the bath water"), já que a maioria dos médicos parece desconhecer totalmente as possibilidades do treinamento físico. E embora tal ignorância seja pelo menos compreensível nesta era de medicina altamente especializada, o médico comum não hesita em opinar sobre o assunto – obviamente considerando-se um especialista, embora totalmente alheio a qualquer um dos desenvolvimentos significativos que ocorreram ocorrido no campo do treinamento físico durante os últimos cinquenta anos.

Também não é uma atitude excepcional, pelo contrário, é uma atitude típica demais e em uma alta porcentagem de casos os médicos são quase violentos em sua oposição a qualquer tipo de exercício. Há exceções, é claro, mas raramente são encontradas.

Até certo ponto, essa atitude está mudando mas está mudando muito lentamente. Outros dois séculos de tal mudança poderiam produzir uma situação em que o médico comum admitiria que o exercício não é "totalmente ruim".

Apesar das evidências simplesmente enormes de que tal tratamento é quase o pior tipo de tratamento possível, o médico médio ainda é a favor da imobilização total das partes do corpo lesadas. Em alguns tipos de lesões, é o tratamento de escolha óbvia  mas, no caso da maioria das pequenas lesões musculares, é exatamente a abordagem oposta à recuperação total. Mais do que isso, o médico comum ainda apóia os mesmos mitos e superstições encontrados no leigo comum no que diz respeito ao treinamento físico, pelo menos. E na maioria dos casos, seus conselhos serão muito breves sobre o assunto do exercício: "... não faça."

Não posso oferecer nenhum conselho construtivo sobre esta situação exceto dizer que muito cuidado deve ser usado ao selecionar um médico. Em qualquer esporte que envolva contato corporal violento, inúmeras lesões leves inevitavelmente ocorrerão e, como qualquer treinador sabe, muitos bons atletas jogarão uma temporada inteira com algum tipo de lesão leve. E embora eu certamente não esteja sugerindo que alguém deva se envolver em atividades violentas enquanto sofre os efeitos de uma lesão grave, estou tentando dizer claramente que muitas lesões musculares podem e devem ser exercitadas.


Notas:
1) "Throw the baby out with the bathwater" é uma expressão derivada do alemão e usada na língua inglesa. Faz uma analogia entre o fato de se descartar algo como um todo por causa da parte ruim e o fato de "descartar o bebê junto à água utilizada no banho". No caso do assunto deste artigo, o autor faz uma referência ao fato da classe médica ter preconceito para com o treinamento físico (considerar o treinamento descartável) devido a sujeitos envolvidos que falam coisas ridículas e infundadas.

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