quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Nautilus Bulletin #1 - 14


Falha de reciprocidade

Por que alguns praticantes produzem bons resultados com o treinamento com pesos, enquanto outros – usando um programa aparentemente idêntico e exatamente o mesmo equipamento – experimentam taxas de progresso tão lentas que eventualmente param de treinar por desgosto?

Uma pergunta complicada, obviamente, e que não pode ser respondida em termos gerais que se aplicam a todos os casos. Mas na maioria dos casos, o verdadeiro culpado é um fator do qual a maioria dos fisiculturistas nunca ouviu falar: falha de reciprocidade, que pode ser definida como a falha em reproduzir os resultados esperados. Tal definição não é tão sem sentido quanto pode parecer à primeira vista - embora seja uma que exija uma explicação cuidadosa.

Para leitores versados nos aspectos técnicos da fotografia, o termo pode ser familiar em outro contexto, e minha primeira tentativa de explicação será baseada em um exemplo desse campo. A exposição correta do filme depende de vários fatores: a chamada "velocidade" do filme que está sendo usado, o tipo de fonte de luz, o tempo de exposição do filme e o tamanho relativo da abertura da lente, além de outros fatores que não têm importância nesse exemplo. Mas, na prática, o fotógrafo mediano geralmente se preocupa com um ou dois dos fatores acima: a duração da exposição e o tamanho da abertura da lente – ou "velocidade do obturador" e "f stop".

Se um desses fatores for alterado, o outro deve ser alterado na proporção exata: se o tempo de exposição for dobrado, então a área da abertura deve ser reduzida em cinquenta por cento, e assim por diante. E em quase todos os casos, se essa relação for mantida, o resultado será o mesmo no que diz respeito à exposição. Mais tempo, menos luz – ou mais luz, menos tempo. A mesma exposição em ambos os casos.

Mas a fórmula nem sempre funciona. Ao se aproximar de qualquer extremidade da escala, observar-se-á que a exposição real sempre será menor do que a esperada pela combinação de tempo de exposição e abertura da lente usada. Nunca mais, sempre menos. Se forem usados tempos de exposição extremamente longos, a exposição resultante será menor do que a indicada pela fórmula. E se forem usados tempos de exposição muito curtos, o resultado será novamente subexposição. E esse resultado será produzido apesar do fato de que a fórmula usada é precisa ou, pelo menos, é preciso dentro de uma determinada variação.

Quando tal resultado é produzido, é chamado de "falha de reciprocidade". O resultado produzido não correspondeu às expectativas ainda que a fórmula utilizada estivesse correta.

E um fator muito semelhante é encontrado no fisiculturismo ou em qualquer tipo de treinamento físico. Assim, na prática, descobrimos que dobrar a duração de um treino não trará tantos resultados e que uma série de uma repetição não produzirá dez por cento dos resultados de uma série de dez repetições. Mas muitos praticantes de musculação parecem pensar que apenas dobrar o número de séries, ou o número de exercícios, também dobrará sua taxa de progresso. Tal pensamento levou à recentemente proposta teoria da "total tonnage" ("tonelagem total"), uma teoria que sugere que o único fator importante é a quantidade total de peso levantado durante um treino. Uma teoria que, de fato, é tão ridícula que não nem mesmo merece consideração ou discussão racional. E, por favor, não me escreva para afirmar que "...nada é indigno de consideração racional". E as teorias da Flat Earth Society (Sociedade Terra Plana), as pessoas que ainda não acreditam que este planeta é uma esfera?

No entanto, para o benefício daqueles leitores que possam ter muito conhecimento em física, apontarei que a teoria da tonelagem total ignora os fatores de distância vertical de movimento e velocidade de movimento sem os quais nenhuma discussão razoável de poder ou força é possível mesmo. E também ignora o fator de falha de reciprocidade, do qual o inventor da teoria da tonelagem total provavelmente nunca ouviu falar e certamente não entende.

Bastante teoria até agora mas como esse fator se aplica ao treinamento físico de maneira prática? Em termos simples, provavelmente pode ser melhor entendido no mesmo contexto que se aplica ao exemplo da fotografia mencionado anteriormente. Dentro de um certo intervalo – em uma certa escala – então a produção de resultados pode ser calculada com um alto grau de precisão, mas os limites superior e inferior dessa escala devem ser compreendidos e permitidos. Na prática, em termos muito simples, isso significa que exercícios "demais" ou "de menos" terão os mesmos resultados finais – e que, em ambos os casos, esses resultados serão ruins. Significa também que a produção dos melhores resultados possíveis depende de uma compreensão clara dessa escala. O praticante deve estar ciente das limitações e deve permanecer dentro dos limites do trabalho mais produtivo.

E embora um entendimento completo deste fator não resulte mesmo que você memorize todo este boletim, um entendimento prático provavelmente será alcançado por leitores que se derem ao trabalho de lê-lo cuidadosamente e com a mente aberta.

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