Explicando
a relação entre a mente humana e a arte, Ayn Rand escreveu, num ensaio
intitulado, "The Psycho-Epistemology of Art", "Enquanto, em
outras áreas do conhecimento, o homem superou a prática de procurar respostas
místicas, no campo da estética essa prática continua com força total a está se
tornando cada dia mais cruel”.
Até
onde eu sei, a Sra. Rand não tinha nenhum interesse no fisiculturismo, mas se
tivesse ela observaria um fenômeno similar. Os fisiculturistas com os quais eu
tenho contato diariamente estão agonizantemente confusos. A única fonte de
informação de muitos deles é apenas revistas de fisiculturismo, as quais ele
lêem com um zelo quase religioso, absorvendo essas palavras como se fossem revelações
divinas, ou pronunciamentos de oráculos sagrados, que não devem ser questionados,
mas passivamente aceitos numa fé cega. Muitos fisiculturistas não conseguem
reconhecer que revistas de fisiculturismo não são jornais científicos, mas
catálogos comerciais cuja função primária e motivo de existência é vender
suplementos e equipamentos de treino. Não podemos ser ingênuos, pois mesmo
revistas científicas respeitadas hoje sofrem com pesquisas fraudadas em todas
as áreas. Apesar de essas publicações conterem alguns artigos baseados em fatos
e na razão, isso é uma raridade pois na maioria das vezes são informações
contraditórias, que não acrescentam nada àquelas pessoas sem senso crítico e
que passam desapercebidas pelos leitores mais inteligentes.
A
noção de que o fisiculturismo é uma ciência vem sendo discutida por décadas
pelos editores de revistas de fisiculturismo e alguns fisiologistas. Para se
qualificar como uma ciência válida, no entanto, fisiculturismo dever ter um
embasamento teórico consistente e racional, algo que nenhum dos indivíduos
mencionados - a não ser Arthur Jones e Eu - pôde prover até agora. O que
acontece até agora com a chamada “Ciência do Fisiculturismo Moderno” é, na
verdade, uma pseudociência. Propagada pelos fisiculturistas tradicionalistas ou
ortodoxos nada mais é do que uma repetição de idéias antigas, desconexas e
contraditórias.
Um
grande número de autodenominadas “experts” alega que não há princípios objetivos
e universais para exercícios produtivos. Eles alegam que, já que cada
fisiculturista é único, cada fisiculturista requer individualmente um programa
de treino diferente. Isso implica dizer que a melhor forma de se treinar para
ganhar músculos é algo subjetivo, que só pode ser definido pelas necessidades e
vontades de cada um.
Apesar
de dizerem que não existem princípios universais, muitas dessas pessoas
defendem que um fisiculturista deve executar entre 12 e 20 sets por grupo
muscular, de 2 a 4 horas por treino, para maiores ganhos, recomendam 2 ou 3
treinos por dia, seis dias por semana, com o sétimo dia de descanso – para o
Sabbath, eu presumo. Muito científico!!!!
O
princípio implícito nesse pensamento é “mais é melhor”. Esse é um princípio da
economia: mais dinheiro, mais sucesso, por exemplo. Mais valor é melhor que
menos valor. Mas esse princípio tem uma aplicação limitada no treinamento.
Pegar um princípio de um contexto, como a economia, e aplicá-lo de forma
simples, sem uma análise crítica e cegamente a outro contexto, como o
fisiculturismo, é aplicar a conhecida “mudança de contexto”. Alguns anos atrás,
o Mr. América Steve Michalik transformou esse conceito errôneo em uma conclusão
lógica e começou a defender que deveria fazer entre 70 e 100 sets por músculo!
Michalik efetivamente fez o que defendia e quase morreu!!!
Então
o que será: 12-20 sets ou 75-100 sets? Na verdade, melhor seria questionarmos:
1)
Por que a contradição? Se cada fisiculturista, sendo único, necessita de um
programa de treino único, porque defender o mesmo número de sets para todos?
2) Qual o equívoco? Qual ideia deve ser considerada e em que base? Qual está
mais próximo da verdade: os defensores de 12 a 20 sets ou os que defendem 75 a
100 sets? Os estão ambos equivocados?
3) Por que a falta de exatidão?Terão os fisiculturistas os mesmos resultados
com 12, 14, 20 sets ou com 75, 87 ou 100 sets? Se a ciência deveria ser uma
disciplina exata, a ciência do fisiculturismo deveria dizer exatamente o que se
fazer.
4) Por que a evasão? Todos esses sets devem ser executados com o mesmo grau de
intensidade, pelas mesmas pessoas o tempo todo?
Já
que as questões levantadas acima representam apenas a ponta do iceberg, elas
nos mostram as conseqüências desastrosas de se seguir uma idéia desprovida de
base intelectual e racional.
Uma
teoria científica é um conjunto de princípios que servem para descrever
corretamente uma realidade ou guiar as ações humanas. Um monte de idéias
jogadas, conclusões falsas e contradições irreconciliáveis não constituem uma
teoria válida e, mais ainda, não servem como guia de uma ação de sucesso.
Os
ortodoxos cometem outros erros intelectuais. Um ótimo exemplo são suas
concepções que não tem aplicação. Apesar de referências ocasionais, arbitrárias
e fora do contexto sobre o “princípio da sobrecarga”, eles nunca identificaram adequadamente
o estímulo especificamente responsável por provocar o crescimento muscular.
Como resultado, eles acham justificável roubar o conceito de intensidade e passá-lo
para frente de uma forma sem sentido, de forma inapropriada. Outro exemplo é o
conceito de overtraining. Sem vontade ou incapazes de definir o termo, apenas
dizem que se trata de algo negativo, como se fosse uma abstração, algo sem
laços com a realidade. Como consequência, esse conceito não é apenas mal
utilizado, mas quase não é usado e não tem papel nenhum nas suas idéias.
Onde
pode um fisiculturista confuso achar respostas para essas questões urgentes?
Rick Wayne, editor da Flex Magazine, respondeu essa pergunta alguns anos atrás,
dizendo, “Cada fisiculturista deve ser seu próprio cientista e achar sua rotina
de treinos ideal”. “Mas e se um fisiculturista em particular não for um
cientista muito bom?”. Nenhuma resposta a essa pergunta foi dada.
Outros
responderam sugerindo que fisiculturistas confusos deveriam seguir seus
instintos. Eu respondi a isso, de forma bem humorada, dizendo que se os
fisiculturistas seguissem o “princípio instintivo” para guiá-los em seus
treinos, muitos deles provavelmente fariam xixi e defecariam nas barras ao
invés de levantá-las. O Homem não é um ser instintivo cujo conhecimento é
automático, ou “conectado” ao seu sistema nervoso, mas uma criatura conceitual
que precisa adquirir e usar conhecimento num esforço cognitivo.
A
resposta mais filosófica foi dada por um expert conhecido: “Há um mundo de
verdades maiores do que aquelas conhecidas pelos cientistas e apenas algumas
pessoas tem acesso a elas”. Já que a realidade é o mundo da verdade, só podemos
imaginar a qual mundo ele se refere e o que ele tem a ver com o fisiculturismo,
quem te acesso a ele e por quais meios. Tudo isso aponta para o fato de que o
fisiculturismo está à beira da sua própria “idade das trevas” – e, mais ainda,
porque tanto fisiculturistas se tornaram cínicos e desistiram.
Os
defensores da visão ortodoxa, desprovidos de qualquer defesa teórica dos seus argumentos
são forçados a citar algumas evidências ridículas para reforçar suas posições.
Frequentemente me perguntam: “se 12-20 sets não é o melhor jeito de treinar,
como se explica o sucesso de caras como Arnold e Lee Haney?”. A resposta é que,
mesmo que seus físicos sejam, em parte, resultado desse tipo de treino, as
milhares de pessoas que nunca chegam nesse ponto também falham na busca pelo
físico ideal por causa desse tipo treino.
Mais
ainda, é um erro apontar o aparente sucesso de algumas dúzias de ganhadores
como prova indubitável de que um certo tipo de treino é eficaz. Se você
observar o curso de suas vidas e calcular as horas, meses e anos perdidos nesse
treino de alto volume, desprovido de teoria e praticado cegamente, poder-se-ia
questionar se isso pode, realmente, ser chamado de sucesso.
Devemos
ter em mente, também, que a genética tem um papel fundamental na determinação
do sucesso de um fisiculturista. Arnold e Haney, sem falar de mim, Doryan Yates
e outros que conseguiram alcançar níveis incríveis de desenvolvimento, possuem
uma abundancia de traços genéticos necessários para esse desenvolvimento, tais
como músculos longos, densidade muscular acima do normal e capacidade superior
de recuperação.
A
Melhor forma de se avaliar a eficácia de dois tipos de treino é examinar os
resultados obtidos por pessoas geneticamente dotadas em cada tipo de treino. Em
1º maio de 1973, Casey Viator fez parte de um experimento, conduzido na
Universidade do Colorado em Fort Collins, com o intuito de descobrir quanto
músculo ele poderia ganhar em um mês de treino de alta intensidade.
Casey
treinou apenas 3 vezes por semana, cada treino não durava mais do que 30
minutos, já que o experimento durou 1 mês, isso significa que Casey treinou, no
total, 6 horas. O Resultado é que Casey foi de 75 kg para sua melhor marca de 95
kg. O fisiologista que conduziu o experimento, Dr. Eliot Plese, descobriu
(usando um aparelho sofisticado de ensaio de radioisótopos) que Casey perdeu
quase 8 kg de gordura durente esse mês. O ganho real de Casey, então, não foi
apenas de 20 kg, mas quase 28 kg, isso tudo com apenas 6 horas de treino!
Agora,
comparemos os ganhos de Casey com os que Arnold conseguiu com a sua preparação
para o Mr. Olympia de 1975. Arnold fez questão de dizer a todos que iniciou seu
treino em julho daquele ano, treinando duas vezes por dia por duas horas, ou
seja, 4 horas por dia, seis dias por semana até a competição em novembro. Como
resultado, num total de 288 horas de treino, Arnold adquiriu aproximadamente
11 kg de massa magra, indo do seu peso original de 91 kg para 102 kg. É
interessante notar que Arnold conseguiu ganhar de volta apenas 11 kg de músculo,
falhando, neste 4 meses de treino, em chegar a sua melhor marca de 108 kg.
Não
apenas Arnold e Casey são geneticamente dotados, mas ambos estavam recuperando
massa muscular, o que acontece mais rapidamente do que quando se ganha a partir
do nada. E já que ambos estavam tomando esteróides nesses períodos, podemos
concluir que o fator que determinou o amplo sucesso de Casey foi o uso dos
princípios do High Intensity Training. Quando perguntado por que não havia
conseguido recuperar sua melhor forma, que havia desenvolvido no Mr. Olympia de
1974, um ano antes, Arnold disse que os 4 meses de preparação não foram
suficientes.
Para
aqueles que questionam a validade de um treino breve e de alta intensidade, por
causa da superioridade numérica daqueles que se utilizam do “mais é melhor”, eu
só posso dizer que generalizações estatísticas nem sempre se constituem como
uma prova válida de escolha individual. Um bom exemplo disse é o fato de que,
durante milhares de anos, as pessoas acreditaram que a Terra era plana, mas
isso não fez com que isso fosse verdade.
Um
erro cometido por muitos leitores de revistas é acreditar que as rotinas
costumeiramente descritas pelos campeões são as que eles sempre usaram. Na
maioria das vezes, os campeões começaram suas carreiras e desenvolveram a maior
parte de seus físicos usando rotinas de treino abreviadas, treinando 2 ou 3
vezes por semana, usando exercícios básicos e muito peso. Conforme eles
progrediam, eles cometiam o erro – que eu mesmo cometi – de aumentar o numero
de sets e de treinos por semana, o que explica a estagnação e as vezes
retrocesso de alguns. O aumento da duração e da frequência dos seus treinos é
feito em conjunção com o uso de esteróides, o que ajuda a prevenir, ou ao menos
reduzir, a perda de massa que, de outra forma, resultaria de uma maratona
crônica de treinamento.
Considerando
que os auto proclamados “experts” nunca forneceram uma teoria de treino
racional ou consistente, ou direcionada às questões levantadas aqui, é uma maravilha
o fato de que muitos fisiculturistas continuem agindo cinicamente como animais.
Aproximadamente
20 anos atrás eu me encontrava em uma situação similar àquela experimentada por
inúmeros aspirantes a fisiculturista que eu hoje encontro diariamente. Eu lia
avidamente todas as revistas, memorizando as rotinas de treino, regimes
nutricionais e, até mesmo, os hábitos pessoais dos campeões. Seguindo seus
passos, eu utilizava o “mais é melhor”, fazendo 30 sets por grupo muscular,
treinando 3 horas por dia, seis dias por semana. Depois de meses treinando
dessa forma sem nenhum progresso, minha motivação caiu tanto que eu pensei seriamente
em desistir de treinar. Eu pensei que, se treinando 3 horas por dia não era
suficiente para crescer, então eu deveria aumentar meu tempo de treino para 4
horas por dia. Mas seria difícil justificar gastar mais tempo na academia todos
os dias, sendo que eu já estava muito cansado por causa das minhas 12 horas de
serviço militar na aeronáutica e mais 3 horas na academia. Se para desenvolver
um físico campeão eu precisava abrir mão da minha vida social e gastar 1 quarto
das minhas horas acordado na academia, não valia a pena.
Agonizando
na perspectiva de abrir mão do meu sonho de ser uma fisiculturista campeão, eu
tive sorte de conhecer, naquele momento, Casey Viator no Mr. América de 1971 em
York Penn. Não apenas Casey era o mais jovem competidor, aos 19 anos, a vencer
o título, como ele era favoravelmente comparado a Arnold (que estava lá naquele
dia para checar a nova estrela que surgia). O que era ainda mais interessante sobre
Casey, era o tipo de treino que ele estava usando. Enquanto Arnold, Franco,
Draper e etc estavam todos treinando até 5 horas por dia, Casey treinava menos
de 3 horas por semana!!!
Casey
ficou impressionado com o meu potencial físico, e sugeriu que eu ligasse para o
seu mentor, Arthur Jones, o inventor das máquinas Nautilus. Eu liguei para ele
numa manhã, mas ele não estava, deixei um recado dizendo que eu havia ligado.
Ele me ligou de volta às 2 da manhã, no dia seguinte, algo que eu aprendi, um
tempo depois, ser uma característica comum desse empresário radical. Antes que
eu pudesse sugerir que talvez fosse melhor nos falarmos depois, naquele mesmo
dia, mais tarde, quando eu estivesse mais acordado, Jones se lançou numa
apaixonada explicação sobre a natureza de um exercício produtivo, em oposição
ao que era dito nas revistas de fisiculturismo.
Sua
ardente oratória era tão inspiradora que o meu sonambulismo desapareceu
imediatamente. Por mais de uma hora eu escutei, com extrema atenção enquanto
Jones me explicava, na melhor a mais objetiva linguagem, a relação causa-efeito
entre intensidade e crescimento muscular e porque, já que o corpo tem uma
tolerância limitada a essa demanda intensa, um treino de alta intensidade deve
ser breve e infrequente.
Antes
de Jones finalizar, eu percebi que eu não era um expert em fisiculturismo como
eu imaginava, de fato, eu sabia muito pouco sobre o tema. Memorizar rotinas de
treino das revistas de fisiculturismo não fazia de mim um expert. Pela primeira
vez na vida, eu escutei alguém que levou muito, muito a sério o conhecimento,
razão, lógica e ciência. Tendo entendido muito claramente o que Jones queria
dizer sobre exercícios, naquela manhã, depois de 20 anos, eu imediatamente
mudei para um treino de alta intensidade e em apenas um ano e meio, meu físico
medíocre passou por uma transformação tão dramática que eu poderia, facilmente,
me tornar o Mr. América.
Muitos
fisiculturistas se vendem barato. Erroneamente atribuindo sua falta de
desenvolvimento a uma falha genética ao invés de seus métodos de treinos
irracionais ou suas práticas nutricionais, eles desistem de treinar. Não cometa
o mesmo erro de valorizar qualquer método de treino e dessa forma perder um
precioso tempo indo de um método para outro na esperança de, um dia, encontrar
um que funcione.
Não
há nenhuma boa razão para que você continue levando sua carreira de
fisiculturista de forma confusa e incerta. O Progresso não pode ser um fenômeno
irregular, imprevisível ou mesmo inexistente. Uma visão racional do
fisiculturismo, baseada no entendimento e implementação de princípios
científicos de treino e nutrição, o colocará num caminho de progressos
regulares e satisfatórios.
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Arthur Jones, o inventor das máquinas Nautilus,
ensinou a teoria do exercício produtivo a Mike Mentzer |
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